quarta-feira, 17 de abril de 2013

Revolta da Vacina - Rebelião Popular - História - Trabalho Escolar



Revolta da Vacina - Rebelião Popular

A reurbanização do Rio de Janeiro realizada na gestão do presidente Rodrigues Alves, sob a chefia do prefeito Pereira Passos, não resultou apenas na modernização da cidade, ela gerou também uma grande revolta popular no início da década de 1900, a Revolta da Vacina.

A capital à época tinha a alcunha de “túmulo de estrangeiros”, em virtude das mortes dos que visitavam a cidade, o que impedia investimentos estrangeiros e a vinda de maquinário e força de trabalho. Frente a isso, uma campanha sanitária foi realizada para evitar as epidemias e garantir os investimentos necessários para iniciar o desenvolvimento capitalista, já que era necessária uma força de trabalho que estivesse viva para trabalhar nas máquinas.

Havia constantes epidemias de peste bubônica, febre amarela, varíola, sarampo, tuberculose, escarlatina, difteria, coqueluche, tifo, lepra, entre outras. Para tentar sanar esta situação, o presidente Rodrigues Alves nomeou o jovem médico sanitarista Oswaldo Cruz para resolver a situação. Este pediu liberdade de ação para executar sua proposta de saneamento, no que foi atendido. O resultado foi a arbitrariedade e o autoritarismo na política sanitária sobre a população pobre, principalmente da área central da capital.

O primeiro passo foi combater a peste bubônica. Sabendo que o principal vetor de transmissão da doença eram as pulgas dos ratos que infestavam a cidade, Cruz criou uma brigada de 50 homens que percorriam a cidade espalhando raticidas e ordenando a recolha de lixo. Criou ainda o cargo de “comprador de ratos”, um funcionário do Estado que pagava 300 réis por cada rato levado pelos moradores. Esta campanha obteve sucesso e apoio da população.

O segundo passo já não foi bem recebido. No intuito de erradicar a febre amarela, Oswaldo Cruz criou as “brigadas mata-mosquitos”, grupos de funcionário do Serviço de Saúde que, acompanhados de forças policiais, invadiam as edificações com o intuito de desinfetá-las e erradicar o mosquito transmissor da doença. Mas não eram apenas estas as atribuições. Podiam ainda decidir pela demolição das edificações e pela internação compulsória dos infectados. No primeiro semestre de 1904 foram cerca de 110.000 visitas e mais de 600 edificações interditadas. Das 1000 mortes registradas como decorrentes de febre amarela em 1902, conseguiu-se, em 1909, chegar a zero. Oswaldo Cruz ganhou prêmio internacional pela ação e também a animosidade da população.

Mas a reação popular à política do “general mata-mosquito” se faria sentir com mais fúria durante a campanha de vacinação contra a varíola. A vacina havia sido descoberta há quase duzentos anos. A intenção de Oswaldo Cruz era criar a Lei da Vacinação Obrigatória. Ele enviou ao Congresso Nacional uma proposta de lei que foi aprovada em 31 de outubro de 1904. O Jornal A Noite publicou sem autorização formal a notícia no dia 09 de outubro de 1910.

O resultado foi uma campanha contrária à lei, realizada por diversos grupos e por diversos motivos.

Os militares florianistas jacobinos e os positivistas utilizaram a informação para fazer uma campanha contra Rodrigues Alves e, com isso, tentarem mais um golpe militar para a deposição do presidente, bem ao gosto das forças armadas brasileiras na história da República.


Bonde tombado na Praça da República, no Rio de Janeiro, durante a Revolta da Vacina.*

Criou-se ainda a Liga contra a Vacinação Obrigatória, reunindo grupos de oposição ao governo e sindicatos. A partir do dia 10 de outubro, as agitações populares se iniciaram no centro da cidade. A polícia foi chamada para conter a população e o fez violentamente, com tiros e cavalaria. O resultado foi a transformação das agitações em revolta popular. Bondes e carroças foram atacados e destruídos, bem como o calçamento das ruas, houve saques em lojas. Nos morros da Gamboa e da Saúde, barricadas foram erigidas para impedir o avanço das forças policiais. Durante uma semana, a cidade do Rio de Janeiro viveu uma verdadeira guerra civil. O governo decretou estado de sítio e passou a combater a população e os militares que pretendiam o golpe.

O saldo da Revolta da Vacina não é preciso, mas cerca de 30 pessoas morreram, 100 ficaram feridas e 1000 foram presas. Metade dos presos foi enviada ao Acre para realizarem trabalhos forçados.

Os motivos para a revolta foram vários. O governo em nenhum momento realizou uma campanha de informação sobre a necessidade da vacinação. Apenas iria obrigar as pessoas a se vacinarem. As preocupações iam desde preceitos morais, como a suposta necessidade das pessoas se despirem para serem vacinadas, quanto sofrerem mutações por receberem no corpo a vacina. Porém, o principal problema era que a campanha sanitária foi utilizada como argumento para retirar do centro da capital a população pobre, expulsando-as para as áreas periféricas e morros, com o objetivo de “embelezar” a capital. De forma autoritária, o governo utilizava de um discurso de melhoria da saúde da população para moldar o espaço urbano de acordo com o interesse das classes dominantes, segregando o restante da população.

Os resultados na saúde foram positivos. As doenças foram controladas ou erradicadas, como é o caso da varíola, em que não há mais registros de sua ocorrência no mundo. Criou-se ainda o Instituto Oswaldo Cruz, referência na área de saúde no Brasil. Mas também intensificou a favelização no Rio de Janeiro e a exclusão da população pobre e explorada de amplos espaços urbanos, o que durante todo o século XX dificultou o acesso às mínimas condições de saneamento básico.

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